quarta-feira, outubro 14, 2009

Duas décadas à espera da glória


Na próxima sexta-feira, a seleção brasileira adentrará o gramado do Estádio Internacional do Cairo para enfrentar a perigosa equipe de Gana e buscar a conquista do pentacampeonato mundial na categoria sub-20. No banco, a comandar a jovem geração de Giuliano, Allan Kardec, Alex Teixeira, Paulo Henrique "Ganso" e outros, um personagem em especial terá bons motivos para aguardar ansiosamente o triunfo.

Há exatos vinte anos, Rogério Moraes Lourenço, então um promissor zagueiro, integrava a ótima equipe que participou do Mundial de Juniores (nome da competição à época) na Arábia Saudita. Com um time repleto de futuras estrelas do futebol brasileiro, como Carlos Germano, Marcelinho Carioca, Leonardo e Sonny Anderson, e algumas grandes promessas que não chegaram a vingar da forma que se esperava, como Assis (irmão e empresário de Ronaldinho Gaúcho), Bismarck e Cássio, o Brasil era considerado o grande favorito ao título e vinha de resultados expressivos a credenciá-lo.

Contudo, após eliminar a Argentina nas quartas-de-final, a seleção tropeçou em Portugal (dos ascendentes Fernando Couto, Paulo Sousa e João Pinto) em partida dramática marcada por uma atuação incrível do goleiro José Bizarro. A derrota por 1 x 0 adiou a conquista daquele que seria o tricampeonato e os garotos voltaram a seus clubes para enfim impulsionar suas carreiras profissionais.

Rogério, apesar dos 17 anos, já era titular da zaga do Flamengo desde a reta final da Copa União (Campeonato Brasileiro) do ano anterior. Não muito alto, tampouco veloz, mas dotado de grande técnica, boa impulsão e um chute forte de pé direito, o garoto tomou conta de uma posição que estava carente desde a saída do ídolo Mozer para o Benfica, quase dois anos antes.

Em 1990, conquistou a Copa São Paulo de Juniores ao lado de uma geração fantástica do Rubro-Negro, onde brilhavam nomes como Djalminha, Nélio, Marcelinho Carioca, Paulo Nunes, Júnior Baiano, Fabinho e outros. Ironicamente, o Flamengo não chegou a usufruir de forma satisfatória daquela "fornada", desfazendo-se de todos eles ao longo dos anos seguintes, a maioria a preços irrisórios.

Outras conquistas vieram, como a Copa do Brasil de 1990, o estadual de 1991 e o Brasileiro de 1992, este com uma desacreditada equipe comandada pelo genial Júnior, já às portas da aposentadoria. Rogério revezava-se na defesa com seu colega de base Júnior Baiano e com o veterano Wílson Gottardo, mas sempre que entrava era uma garantia de segurança.



Após a despedida do maestro Júnior, em meados de 1993, assumiu a faixa de capitão, tornando-se, aos 22 anos, o mais jovem líder da história rubro-negra. Os números impressionavam: fez ao todo 27 gols em 268 partidas pelo Mengo, sendo um dos maiores defensores artilheiros do clube em todos os tempos. Mas a lua-de-mal com a nação flamenguista acabou no ano seguinte, graças a uma oferta, naqueles tempos irrecusável, de US$ 1,5 milhão feita pelo Cruzeiro, de cofres cheios após negociar um certo Ronaldo com o PSV Eindhoven...

Em BH começou sua derrocada. Após quase ser rebaixado no Brasileiro de 1994 e não oferecer nenhuma resistência ao título estadual do arquirrival Atlético no ano seguinte, o Cruzeiro até fez boa campanha no Brasileirão que veio a seguir, mas parou no futuro campeão Botafogo nas semifinais. Começando a sofrer com seguidas contusões (segundo algumas fontes, fruto principalmente de excessos extra-campo) e a consequente falta de ritmo e lentidão em campo, Rogério acabou perdendo espaço para o prata-da-casa Vanderci e seu ex-companheiro de Gávea, Gélson "Baresi".

Emprestado ao Vasco no início de 1996, pouco jogou e retornou a Minas após apenas um semestre. Sem se firmar novamente entre os titulares da Raposa, deixou a equipe celeste antes mesmo da final da Libertadores de 1997, em que o Cruzeiro conquistou seu segundo título da competição em cima dos peruanos do Sporting Cristal.

Iniciou uma peregrinação marcada por poucas partidas, gols ainda mais escassos e a lembrança do promissor zagueirão do início de carreira se desfazendo cada vez mais. Após passagens fugazes por Guarani e Paraná Clube, atuou pelo Fluminense na Série C de 1999, tempo difícil e de dolorosas recordações para a torcida tricolor.

Em 2000, retornou a seu velho lar e parecia que iria enfim renascer. Ledo engano. Apenas duas partidas oficiais em quase um ano e meio, entremeadas por intermináveis dias no DM. Foi embora e após uma última tentativa frustrada, acabou enfim pendurando as chuteiras no Vila Nova goiano, em 2003, com apenas 32 anos.

Três anos depois, a saudade da bola o levou às categorias de base de seu amado Flamengo, onde assumiu a equipe Sub-17. Ano passado, após algumas conquistas de expressão com os garotos da Gávea, chamou a atenção da CBF, que lhe confiou o comando da seleção Sub-20.

Campeão sul-americano na Venezuela no início deste ano e perto de faturar o título mundial que lhe escapou como jogador duas décadas atrás, Rogério Lourenço agora inicia, quem sabe, um novo caminho rumo às conquistas e glórias que lhe faltaram em sua primeira fase futebolística.

quarta-feira, setembro 09, 2009

O "bambino milonguero" da Fiel


É notória a paixão corintiana pelos jogadores argentinos. A tradicional raça portenha costuma casar bem com a história alvinegra, marcada pelas mesmas características. E tal "casamento" ganhou cores mais fortes nesta década.

Somados os recém-contratados Defederico e Torres, são nada menos que oito argentinos com passagem pelo Timão desde 2001. De ídolos e atuais estrelas internacionais como Carlitos Tevez e Javier Mascherano a fracassos esquecíveis como Ávalos e Sebá Domínguez.

Mas bem antes disso, a "invasión" já ocorria, embora em menor escala. E entre os casos mais folclóricos, sem dúvida destaca-se o nome de Héctor Rodolfo Veira.

Sua carreira profissional começou em 1963, no San Lorenzo de Almagro. El Bambino fez furor em seu início, sendo artilheiro do Campeonato Nacional já no ano seguinte, com apenas 18 anos. Em 1967, chegou à Seleção, e no ano seguinte, comandou o Ciclón na conquista invicta do Torneio Metropolitano. Formava na época uma irresistível dupla de ataque com o lendário Ubaldo Fillol, igualmente loiro, cabeludo e irreverente, e que mais tarde receberia o amor de torcedores de Flamengo e Fluminense.

Após rápidas passagens por Huracán, Santos Laguna (México) e Banfield, com um breve retorno ao San Lorenzo no meio do caminho, passou pelo Sevilla, fracassando em sua estreia em campos europeus. No início de 1976, com 30 anos incompletos, foi anunciado pelo presidente Vicente Matheus como grande reforço para o Corinthians. Com um gostinho especial para a Fiel: a contratação foi um "chapéu" no arquirrival Palmeiras, pelo qual Veira chegou até a disputar alguns amistosos enquanto negociava seu contrato.

Suas façanhas do início de carreira foram longamente decantadas e serviram de alento a uma torcida então sofrendo com mais de duas décadas sem títulos de peso. Mas aquele brilhante jogador era coisa do passado: fora de forma, ressentindo-se de várias contusões e sem tanta disposição para treinar, pouco jogou (menos de dez partidas) e não marcou gols.

Em uma de suas últimas aparições, em outubro daquele ano, entrou no segundo tempo de uma partida contra o Operário de Campo Grande. A vitória por 2 x 1 não bastava ao Corinthians, que buscava mais um gol para obter um ponto adicional (previsto pelo confuso regulamento do Brasileirão na época). Em seu primeiro toque na bola, Veira fez lindo lançamento para o meia Neca, que só teve o trabalho de completar para as redes. Com a torcida em delírio, arrancou a camisa e a atirou para as arquibancadas. Acabou expulso.

Foi embora pouco depois, no mais absoluto anonimato. Passou rapidamente pelo Universidad de Chile e pelos exóticos Comunicaciones (da Guatemala) e Oriente Petrolero (da Bolívia), onde pendurou as chuteiras em 1978.

Tornou-se técnico e do banco de reservas construiu uma história mais vitoriosa e marcante. Após quatro temporadas dirigindo o San Lorenzo e uma passagem fugaz pelo Vélez Sarsfield, assumiu em 1985 o River Plate, que sob o comando do genial uruguaio Francescoli conquistou na temporada seguinte o título nacional, a inédita Libertadores e (já sem o meia, que havia ido para a França) o mundial no Japão diante do surpreendente Steaua Bucareste, campeão europeu derrubando o poderoso Barcelona.

De volta ao San Lorenzo, conquistou o Torneio Clausura em 1995 (pondo fim a um jejum de 21 anos sem conquistas nacionais) com uma equipe onde brilhava o meia Silas (atualmente técnico do Avaí). Depois, passou pelo Boca Juniors (em período de entressafra, apesar das presenças dos veteranos Maradona e Caniggia), seleção da Bolívia, Lanús, Newell's Old Boys e Quilmes, voltando ao San Lorenzo para enfim encerrar sua carreira futebolística em 2004, aos 58 anos, e com a marca de 371 partidas comandando o Ciclón, recorde histórico do clube.

Sua carreira ainda foi manchada por um escândalo pessoal. Em 1987 foi acusado de molestar um jovem de 13 anos chamado Sebastián Candelmo, integrante da equipe juvenil do River Plate. Condenado em 1991 a seis anos de prisão, obteve condicional, mas até hoje jura inocência.

quinta-feira, setembro 03, 2009

"Defesa di ferro"


Legítimo representante da tradicional escola uruguaia de zagueiros ao mesmo tempo técnicos na condução da bola e ríspidos (e, porque não, até violentos) na disputa da mesma, Rónald Paolo Montero Iglesias (Montevidéu, 03/09/1971) teve em casa um professor de respeito. Filho de Montero Castillo, volante da Celeste nas Copas de 1970 e 74, herdou deste a raça e vocação "copera".

Não tão alto (1,79m), destacava-se pela rigidez na marcação, não se constrangendo em "matar" as jogadas ao enfrentar atacantes mais gabaritados. Após dar seus primeiros passos no Peñarol, foi para a Itália, contratado pela Atalanta. Ficou quatro anos nos Orobici.

Em 1996, foi para a Juventus e lá fez fama. Formou ao lado do atual técnico bianconero Ciro Ferrara uma dupla de zaga quase inexpugnável, um dos setores de destaque em uma equipe multicampeã.

Fez uma respeitável coleção de títulos: cinco scudettos (um deles, o de 2004/05, depois cassado devido ao lamentável episódio do CalcioCaos), duas Copas da Itália, um mundial (em 1996, diante do River Plate) e várias taças menores. Contudo, não foi tão feliz nas disputas da Liga dos Campeões: o máximo que conseguiu foi ser três vezes vice-campeão, a última delas, em 2003, perdendo um pênalti na decisão contra o Milan do goleiro Dida.

Ficou famoso também pela violência. Tornou-se o recordista de cartões vermelhos na Serie A, com nada menos que 16 expulsões em 13 temporadas. Os adversários o condenavam pela truculência, mas a torcida alvinegra de Turim reverenciava o "Terminator" como símbolo de raça e entrega.

Pela seleção uruguaia é que não foi tão feliz. Coincidindo sua carreira com o início da extrema decadência do futebol charrua, disputou apenas uma Copa do Mundo, em 2002. Em seu último jogo pela Celeste, em 2005, a doída derrota nos pênaltis para a Austrália, que tirou do país a chance de ir ao Mundial da Alemanha.

Também em 2005 encerrou sua longa carreira no futebol italiano, deixando a Juventus após nove temporadas e 186 partidas oficiais disputadas. Passou rapidamente pelo San Lorenzo (ARG), onde foi prejudicado por constantes lesões, e enfim retornou ao Uruguai para defender seu amado Peñarol.

Em 17 de maio de 2007, disputou sua última partida oficial, diante do Danubio. A torcida, que via em Paolo Montero um legítimo representante dentro de campo, lamentou sua despedida. As canelas dos atacantes adversários, estas, puderam enfim descansar aliviadas.

quarta-feira, setembro 02, 2009

O Mozart dos gramados























Revelado pelo Eintracht Frankfurt, o meia Andreas Möller (02/09/1967) desde muito cedo atraiu a atenção por seu futebol refinado, de passes certeiros e conclusões eficientes. Graças a seu talento, no início de carreira era conhecido por Mozart, referência óbvia a seu compatriota e um dos maiores compositores da história.

Se sua excelência em campo não chegava a ser a mesma, certamente não ficou devendo. A partir da ida para o Borussia Dortmund, clube maior e de torcida mundialmente conhecida por seu fanatismo, sua carreira decolou. Chegou à seleção alemã e disputou a Copa do Mundo na Itália, em 1990, fazendo parte da equipe tricampeã: contudo, ficou fora da final contra a Argentina por opção do técnico Beckenbauer.

Após um retorno ao Eintracht, tomou o rumo do futebol italiano, onde passou duas temporadas na Juventus. Ofuscado pelo brilho intenso de um certo Roberto Baggio, ficou longe de ser protagonista na Bota e mais uma vez foi vestir a camisa amarela e preta do Borussia.

Em seis temporadas, atingiu seu auge, conquistando um bicampeonato alemão (1995/96) e a glória máxima dos Borussians: a Liga dos Campeões (justamente em cima de seu ex-time, a Juve) e o Mundial diante do Cruzeiro, em 1997. Neste meio-tempo, ainda conquistou a Eurocopa de 1996 pela Alemanha, mas mais uma vez ficou fora da final (diante da República Tcheca), desta feita por conta de uma suspensão por cartões amarelos. Disputou também os Mundiais de 1994 e 1998, mas sem o mesmo brilho da primeira participação. Fez 85 jogos pela seleção, marcando 29 gols.

Em 2000, trocou o Borussia pelo Schalke 04, onde passou três anos, não conseguindo por fim ao terrível jejum de títulos nacionais dos Azuis Reais (que perdura até hoje). Por fim, um breve retorno ao Eintracht Frankfurt, onde encerrou sua carreira no ano de 2004, totalizando 485 partidas oficiais e 129 gols.

Atualmente, Möller é gerente de futebol do Kickers Offenbach, equipe que disputa a 3rd Liga (terceira divisão alemã).