terça-feira, junho 08, 2010

Os 23 da Copa (VIII) - Felipe Melo: contra os próprios nervos

O meia Felipe Melo iniciou sua carreira de forma promissora, dando, com apenas 18 anos, um grande alívio para a maior torcida do Brasil. Seu gol diante do Internacional, numa partida disputada em Juiz de Fora (MG), pela antepenúltima rodada do Campeonato Brasileiro de 2001, acabou no final dando uma valiosa contribuição para que o Flamengo não fosse rebaixado à Série B.

O jogador destacava-se nas categorias de base do Rubro-Negro como um combativo e técnico armador. Mantido na equipe principal, foi dos poucos que se salvou do vexame na Libertadores de 2002, em que seu time foi eliminado ainda na primeira fase: Felipe acabou artilheiro do Mengão com quatro gols. Contudo, caiu de produção com o restante da equipe nas péssimas campanhas feitas nas competições seguintes daquela temporada, em especial no Brasileirão, em que o Flamengo fez novamente uma campanha medíocre e só se salvou da degola nas rodadas finais.

Após disputar o Sul-Americano Sub-20 pela Seleção Brasileira e algumas poucas partidas do Estadual em 2003, acabou emprestado ao Cruzeiro. Não teve maiores oportunidades numa equipe que estava em estado de graça e com o meio-campo povoado de jogadores em grande fase, como Alex, Maldonado, Martinez e Wendell, mas do banco pôde comemorar as conquistas do Brasileiro e da Copa do Brasil (esta, em cima de seu antigo clube), duas das que compuseram a "tríplice coroa" até hoje cantada em prosa e verso pela torcida azul de BH.

No ano seguinte, acabou novamente emprestado, desta vez ao Grêmio. Uma temporada para esquecer. O Imortal amargou a lanterna disparada e um triste rebaixamento, o segundo de sua história no Brasileiro, e que acabou consumado com nada menos que três rodadas de antecedência. Felipe perdeu-se em meio à mediocridade daquele time e só apareceu mesmo quando, na comemoração de um raro gol, pôs a bola sob a camisa. Homenagem a uma gravidez de sua esposa? Não, o ato fazia referência aos implantes de silicone que a mesma havia acabado de fazer nos seios...

Liberado do Flamengo no início de 2005 via Justiça Desportiva, após alegar atrasos salariais, tomou o caminho da Espanha, onde foi defender o Mallorca. Após uma rápida passagem pela equipe das Ilhas Baleares, transferiu-se para o Racing Santander, onde atuou por duas temporadas como titular e sendo aproveitado numa função mais defensiva, como volante, aproveitando-se de seu bom vigor físico e facilidade em marcar. Em 2007, acabou negociado com o modesto Almería, que havia recém-subido da Segunda Divisão e acertado com o também brasileiro Diego Alves, à época promissor goleiro do Atlético-MG e até hoje titular da equipe andaluz.

O Almería fez ótima campanha, ficando em oitavo lugar, e Felipe chamou a atenção de grandes e tradicionais agremiações. A Fiorentina tratou de garantir rapidamente sua contratação, pagando nada desprezíveis 13 milhões de euros por seu passe.

Com a camisa roxa da Viola, explodiu de vez. Seu time fez uma grande campanha, ficando em quarto lugar, superando a favorita Roma de Francesco Totti e garantindo uma das vagas italianas na Champions League da temporada seguinte. Para melhorar, recebeu uma inédita chance na Seleção principal, estreando justamente contra a Itália que o havia acolhido e tendo boa atuação nos 2 x 0 aplicados no Emirates Stadium de Londres.

Firmou-se no grupo de Dunga e garantiu seu lugar como titular na campanha vitoriosa da Copa das Confederações, em junho. Ao mesmo tempo, a poderosa Juventus garantiu sua contratação por nada menos que 25 milhões de euros, quase o dobro do que a Fiorentina havia investido apenas um ano antes.

Tudo ia bem demais, mas para Felipe Melo as coisas começaram a complicar-se desde então. Com um time envelhecido, mal treinado e desequilibrado entre seus setores, a Vecchia Signora fez no Italiano de 2009/2010 sua pior campanha em quase cinquenta anos, perdendo nada menos que 15 de suas 38 partidas e amargando uma modesta sétima posição que a deixou longe até mesmo de disputar uma vaga na UCL. E Felipe, longe de justificar o esforço feito em seu investimento, chegou até a "arrebatar" o Bidone D'Oro, "prêmio" satírico conferido por um programa radiofônico italiano ao suposto pior jogador da temporada.

Na Seleção, também passou a ser discutido. A extrema rispidez na disputa das jogadas, até mesmo em lances banais, a coleção cada vez maior de cartões e os perigosos erros de passe na intermediária defensiva têm preocupado a imprensa e a torcida. Some-se a isso a postura meio arrogante, evidenciada até mesmo em sua constante "carranca" dentro de campo, e um evidente desequilíbrio emocional que, em menos de um mês, o fez envolver-se em patético bate-boca via telefone com o jornalista da ESPN Brasil Paulo Vinícius Coelho, o "PVC", e, mais recentemente, distribuir pontapés nos ingênuos jogadores de Zimbábue e Tanzânia nos últimos amistosos de preparação antes da Copa.

Cabe agora a Felipe Melo vencer seus próprios nervos e provar se é de fato um jogador ascendente e capaz de preencher a contento o meio-campo da Seleção, ou se é apenas um mero engodo desesperado por ver sua boa fase indo embora definitivamente.


Felipe Melo de Carvalho
volante
Volta Redonda (RJ), 26.06.1983
1,83 m
73 kg
Clubes: Flamengo (2001 a 2003), Cruzeiro (2003), Grêmio (2004), Mallorca-ESP (2005), Racing Santander-ESP (2005 a 2007), Almería-ESP (2007/08), Fiorentina-ITA (2008/09) e Juventus-ITA (desde 2009).
Títulos: brasileiro (2003) e da Copa do Brasil (2003) pelo Cruzeiro; da Copa das Confederações (2009) pela Seleção Brasileira.
Jogos pela Seleção: 18 (2 gols)
Participação em Copas: estreante

Foto: Getty Images

Nenhum comentário: