Considerado o “Campeão do Século” do futebol brasileiro no século XX
(por ter conquistado ao menos uma vez todos os campeonatos de âmbito
nacional já disputados até hoje), o Palmeiras, para o desgosto de seu
apaixonado torcedor, tem um desempenho inversamente proporcional neste
século XXI. De 2001 para cá, foram apenas dois títulos oficiais (um
deles, a dispensável Série B), uma sucessão de times modestíssimos, nada
dignos de sua gloriosa história, eliminações vexatórias em confrontos
de “mata-mata”, dinheiro gasto a rodo sem critério tampouco retorno,
enfim, tudo isto como consequência óbvia e cruel da constrangedora
incompetência dos dirigentes.
Uma nova oportunidade de redenção
virá a partir do próximo dia 5, quando a equipe de Luiz Felipe Scolari
começará a decidir a Copa do Brasil contra o encardido Coritiba. Por
diversos fatores, o título é visto de forma especial por todos no
Palestra.
Em primeiro lugar, trata-se da última edição da Copa do
Brasil como verdadeiro “atalho” para a Libertadores do ano seguinte. A
partir de 2013, a competição ganhará mais participantes, durará
praticamente o ano todo e terá de volta, a partir das oitavas-de-final,
os times brasileiros que disputarem a Libertadores no mesmo ano. A
moleza, se que é ainda existia, acabará de vez.
A Copa também
surge como única chance real de comemorar algo ainda este ano. Sofrendo
no Brasileiro (onde ter elenco é fundamental), o Palmeiras já começa a
vislumbrar a possibilidade de mais uma vez ter que brigar para apenas
ficar no modesto bloco intermediário; a Copa Sul-Americana, que se
inicia em agosto, seria a outra opção, mas o desânimo que deve abater o
clube em caso de fracasso na decisão da Copa do Brasil pode ajudar a abreviar a
campanha de cara.
Vencer a Copa do Brasil garantiria, além da hoje tão
rara festa do título, a vaga na Libertadores com mais de
seis meses de antecipação, tranquilizando o elenco e a torcida para o
restante do Campeonato Brasileiro e permitindo planejar com antecedência
as contratações e toda a logística de trabalho em 2013. O exemplo do
Vasco, ganhador da competição ano passado, e que se mantém bem e em
relativo alto-astral até hoje, está bem vivo na memória.
O
momento da conquista também pode ser bastante propício em termos
comerciais. A nova Arena que substituirá o velho estádio Palestra Itália
está com suas obras a pleno vapor e aguardando investimentos de vulto, e
a empolgação do torcedor com o eventual troféu poderia ainda
impulsionar o novo plano associativo lançado na última semana.
O
título é, também, talvez a última chance para personagens como Felipão e
Valdivia justificarem seu retorno e seus salários de nível europeu.
Difícil imaginá-los sobrevivendo a novo fracasso, especialmente o
treinador, que já antecipou não desejar renovar o contrato que se
encerra em dezembro próximo.
Perder a Copa do Brasil tem tudo
para ser desastroso para o Palmeiras. Desanimado, tendo o restante de um
Campeonato Brasileiro duríssimo para enfrentar e sem poder alimentar a
esperança de atingir as metas sonhadas, combalido por mais crises e
brigas de dirigentes e conselheiros mais interessados em alimentar o
próprio ego do que no próprio bem da agremiação, e talvez perdendo os
poucos grandes nomes que ainda lhe restam, o time corre, até mesmo, o
risco de repetir o vexame máximo vivido dez anos atrás.
E ganhar a
Copa do Brasil, salvará o Verdão? Difícil dizer. A esta altura, tamanho
é o sofrimento do torcedor que o título se torna obrigatório para, ao
menos, devolver-lhe um pouco da alegria e fazê-lo esquecer um pouco das
tragédias que o acometem sem piedade nos últimos anos. Na verdade,
a conquista por si só não representa qualquer garantia de "cura": caso siga unida à eterna
bagunça e descaso reinantes nos bastidores do clube, acabará tendo mais ou
menos o mesmo efeito de uma visita dos Doutores da Alegria a uma
criança com câncer terminal: o paciente fica feliz, ri, deixa por um
momento as mazelas de sua triste vida de lado mas, tão logo passa a
empolgação, se dá conta de que continua irremediavelmente condenado...
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